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AMY, DAS TURCAS E CAICOS PARA A LAPA

AMOR E UMACABANA

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Entre figos da piteira, “pan de muertos”, mezcal e fotografias de antepassados a preto e branco, que contrastavam com os tons alaranjados do papel de seda, conheci a Amy. Era o “Día de los Muertos” e a nossa amiga mexicana tinha-nos convidado para festejar com ela.


A Amy estava com um vestido incrível, lembro-me perfeitamente. Pouco depois começámos a falar sobre moda e descobri que ela tinha a sua própria marca nas Turcas e Caicos, onde cresceu, a Sea Sage. Criava vestuário de resort e trabalhava como designer gráfica freelancer para grandes marcas como Manolo Blahnik, Temperley London, Michael Kors e outras.


Tínhamos imenso em comum! Divertimo-nos tanto que, ao fim do evento, já tínhamos planos para uma noite de presunto acompanhada de uma visita às preciosidades do seu armário. Havia todo um “jamón serrano” gourmet do JNcQUOI que lhe tinha sido presenteado e precisava urgentemente de “dar sentido”, e lingerie La Perla… Como dizer que não?


Como todas as coisas boas da vida, o evento fez-se esperar.

Algumas semanas depois, estava em casa dela pela primeira vez. A noite foi tudo o que prometia e muito mais. Desde a antiga máquina de costura que tinha salvo das ruas horas antes, até à lista de convidados diversificada, foi uma surpresa atrás de outra.


O apartamento era a materialização da sua personalidade: exótico, luminoso, alegre e eclético. Este último piso, num quarto andar da Rua de São Domingos à Lapa, tinha janelas a toda a volta da sala, com vista para o Tejo. As escadas de madeira que levavam à mezzanine e a forma como tudo comunicava, tão aberto e dinâmico, com pé direito alto e ângulos por toda a parte, conferiam um especial carisma ao espaço. Claramente não era um apartamento de nova construção, nem tão pouco tinha sido remodelado recentemente: tinha uma lareira aberta, chão em madeira, e uma cozinha desproporcional, consideravelmente maior do que o quarto.


O estúdio, ao cimo das escadas, era o seu espaço de trabalho e abria para uma varanda incrível, um lugar de sonho para criar. O azul do rio e a passagem pachorrenta dos barcos compunham o pano de fundo perfeito: pura inspiração.


Ao longo de um ano de amizade, falámos várias vezes sobre imobiliário. A Amy arrenda o seu apartamento e adorava ser a sua futura proprietária. Como ela, sei que este T1 Duplex na Lapa, é o apartamento de sonho de muitos. Infelizmente, o valor substancial da renda, quase a chegar aos dos dois mil euros mensais, faz com que não passe disso - uma miragem, num oceano cada vez mais escasso de opções de arrendamento para a capacidade financeira dos portugueses. Esta é a realidade atual. É fácil identificar aquilo que nos prejudica… ainda assim, escolho manter uma mente e coração abertos. Atenta às oportunidades que estas mudanças podem significar e à evolução que por sua vez têm impulsionado, quis saber como é que ela chegou aqui e como tem sido a sua experiência. Decidi entrevistá-la.


Vesti-me com as suas roupas, literalmente, e mergulhei no seu universo mágico de tons coral.


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“Nasci em Calgary, no Canadá, mas a minha verdadeira história começou quando a minha família se mudou para as ilhas Providenciales, em Turcas e Caicos, quando eu tinha apenas dois meses. Crescer nas Caraíbas moldou-me profundamente – vivi rodeada de beleza natural, banhos infinitos, águas turquesa e precoces aulas de golfe sob o sol. Rodeada por paisagens vibrantes e uma cultura colorida, desenvolvi uma paixão inata por tons brilhantes, padrões elaborados e expressão criativa.”


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Após um percurso educativo e profissional heterogéneo – em que frequentou um colégio interno na Flórida, fez um mestrado em Florença, estagiou em Nova Iorque e começou o seu trabalho de sonho na DKNY – acabou por ter de abandonar os EUA devido a dificuldades com o visto. Mudou-se para Londres, onde passou os últimos anos e se estabeleceu como designer gráfica.


Depois desta etapa, Lisboa foi o seu destino.

O visto ao qual se tinha candidatado começava no dia do seu aniversário, o que considerou um sinal. Em Março de 2023, encontrou o seu apartamento no Idealista e foi amor à primeira vista. Ainda não tinha o visto, porém, e o apartamento já tinha sido arrendado, mas, quase por magia, voltou a ficar disponível. Era destino.


“As manhãs soalheiras, os fins de semana animados e a inspiração interminável – dos azulejos pitorescos, às combinações de cores – tudo nesta cidade se alinhava com o meu espírito criativo.” Entretanto, já lá vão quase dois anos de rotina. “Como é o dia perfeito para ti?” – perguntei. “O meu dia começa cedo para adiantar trabalho e ter mais tempo para relaxar na varanda mais tarde. Normalmente, passo horas a criar no meu estúdio antes de ir ter com os amigos no bairro para beber um copo. Adoro a forma como a minha rotina equilibra produtividade e relaxamento, e a energia de Lisboa.”


O estúdio é a sua divisão preferida. “Tenho sempre as janelas abertas para deixar a luz abundante entrar… Adoro ouvir os sons da rua e ver os barcos a passar!” – contou-me.


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Tudo no apartamento foi escolhido a dedo. É-lhe difícil escolher uma peça preferida entre tantos bordados étnicos, imagens das suas viagens a destinos tropicais e peças especiais que lhe foram oferecidas, como as fotografias originais do desfile da Givenchy de 2014. No entanto, durante a nossa conversa, houve um elemento que saltou à vista: um desenho a carvão de “um homem bem vestido”, como ela o descreve, que encontrou no sótão do seu antigo apartamento em Londres. Este busto assume posição de destaque onde quer que vá. “Tornou-se uma espécie de mascote. Se calhar é o meu futuro marido, numa vida passada” – confessou entre risos.


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Segundo ela, o que mais atrai estrangeiros a Lisboa é o estilo de vida que lhes permite “estar ativos, mas a um ritmo mais lento comparativamente com cidades como Londres e Nova Iorque”, onde já viveu. “A proximidade às praias e a outras cidades bonitas” é outro fator-chave. Para além disso, “Lisboa é calorosa e simpática de uma forma que se torna naturalmente convidativa.”


Tal como a capital, considera a Lapa o equilíbrio perfeito entre tranquilidade, charme e dinamismo. Desde que chegou, o bairro manteve-se assim e não o imagina a mudar. Tem vários amigos que vivem por perto e dá-se bem com todos no prédio. A verdade é que este é um dos bairros mais cobiçados da cidade e o destino predileto de muitos estrangeiros recém-chegados.


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No fim da nossa conversa, acrescentou: “Quero ficar em Lisboa indefinidamente e adorava comprar esta casa. O meu apartamento de sonho é mesmo assim: tem vistas deslumbrantes e é central – vai de encontro ao meu estilo de vida, permite-me ir a pé para todo o lado.”



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Ao ouvir a história da Amy, torna-se evidente o fascínio que Lisboa exerce sobre quem a descobre, especialmente sobre aqueles que encontram um lar que reflete a sua essência e potencia o seu estilo de vida. Seja como arrendatária ou futura proprietária, ela transformou o seu apartamento num refúgio e numa fonte de inspiração criativa.


O preço de renda médio por metro quadrado nesta zona já vai nos 31 euros e a média de arrendamento na freguesia da Estrela, nos 2586 euros mensais - um aumento significativo ao comparar com os valores praticados antes da pandemia. Em 2018 a cidade já sofria o impacto do aumento de preços incentivado pelo movimento dos novos expatriados e, nessa altura, 23 euros por metro quadrado já era considerado, em muitos casos, um valor excessivo.


Muitos de nós sonhamos encontrar o espaço ideal, um lugar que cative e inspire. É precisamente para isso que esta crónica existe: para dar voz a vivências como esta, apoiar quem ainda está à procura e, até mesmo, quem quer colocar o seu imóvel no mercado, pronto para um novo começo, dando a outros a oportunidade de usufruírem dele.


Se te identificaste, entra em contacto comigo – vamos continuar esta conversa e, quem sabe, tornar teu o próximo capítulo inesquecível.


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